sábado, maio 24, 2008
Intempéries do iletramento intercontinental
A postagem abaixo, além de mostrar um pouco mais do bom trabalho da banda sul-coreana Roller Coaster, serviu também para dar uma idéia dos apuros que nós, pesquisadores bárbaros, passamos quando vamos pesquisar alguma coisa em alfabeto/sistema de escrita diferente do latino. Serviu ainda para sinalizar qual é a estratégia dos artistas destes países que não usam o alfabeto latino para tornarem sua música mais acessível, ou pelo menos fazer seu nome legível para o público ocidental.

Uma coisa é você pesquisar uma banda sérvia chamada Riblja Čorba. Você pode não ter a menor idéia do que Riblja Čorba significa ("sopa de peixe"). Você nem imagina como se faz para digitar esse c com circunflexo invertido em cima. Mas estes caracteres especiais normalmente são ignorados pelos buscadores, de modo que, digitando riblja corba, você consegue chegar às informações e aos arquivos sobre a banda.

Agora, imagina uma banda que se chama 롤러코스터. Primeiro que é altíssima a possibilidade de seu computador, ou algum programa específico que você esteja usando, não conseguir exibir este sistema de escrita e mostrar um 롤러코스터 ou uma seqüência □□□□□ de quadrados aparentemente aleatórios. Segundo que, supondo que você tenha visto o nome da banda numa capa de CD e queira pesquisar alguma informação sobre ela, você vai precisar de uma ferramenta específica para ir digitando e formando o 롤, o 러 e assim por diante (no caso de o nome ter sido visto em um texto na web, um Ctrl+C/Ctrl+V resolveria).

Pensando nisto, algumas bandas do Extremo Oriente em especial (Coréia do Sul, Japão e China, que compõem o chamado sistema CJK nas ferramentas de digitação de caracteres especiais) resolveram estabelecer uma interface amigável com os prospectáveis fãs ocidentais. Criaram um nome ocidental e inundaram nossos mercados com este nome, simples assim. No caso do Japão e da China, geralmente os seus kanji/hanzi (tecnicamente são logogramas; nem são letras, nem palavras, nem ideogramas) contêm uma profusão de sentidos - históricos, regionais ou contemporâneos - que tornam difícil chegar a uma tradução simultaneamente fiel/apropriada/de boa sonoridade. Desta forma, o nome ocidental (geralmente em inglês) tem pouco a ver com o original. É meio o que acontece quando você ganha um nome chinês: de "Anita Campos" para "raios de imensidão".

Já no caso da Coréia do Sul, parece que o próprio estilo das bandas "exportáveis" - moderninhas, com elementos de música ocidental e linguagem contemporânea - facilita as coisas. Os nomes das bandas sul-coreanas e de suas músicas costumam ser traduzidos literalmente do idioma coreano para o inglês (sim, sempre ele), como é o caso de 롤러코스터 para Roller Coaster e de 무지개 para Rainbow.

O ideal seria conhecer esta produção musical diretamente na fonte, mas, como tem muito mais coisa a ser descoberta no mundo musical do que a gente dá tempo de pesquisar e aprender, estes atalhos lingüísticos vêm bem a calhar.
 
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Roller Coaster - Rainbow
Se tem uma coisa que a Roller Coaster não é, é banda de uma música só. Foram cinco álbuns lançados, daqueles de ouvir do início ao fim. A banda reúne o que há de melhor gosto na música sul-coreana. São muitas as bandas que fazem fusão de jazz, pop, música eletrônica, rock, mambo e bossa-nova e o fazem com qualidade, mas a Roller Coaster/롤러코스터 consegue ser a mais completa deste universo, sem piorar sensivelmente ao passar de um gênero para outro.

Aparentemente a Roller Coaster encerrou suas atividades. Mas afinal, cinco discos com várias faixas são bastante coisa para curtir a música destes sul-coreanos. O clipe abaixo, Rainbow/무지개, é mais jazz e mais eletrônico.


 
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quinta-feira, maio 22, 2008
Santoaleixo
San Alejo é o nome de uma simpática cidadezinha em El Salvador. O santo que lhe deu o nome é conhecido entre nós por Santo Aleixo. Viveu na Idade Média, e já foi muito mais pop no seio da Igreja Católica, no tempo em que era padroeiro dos professores.

No Brasil também tem Santo Aleixo, localidade turística que é distrito de Magé, no Rio de Janeiro.

Sanalejo, tudo junto, é a grafia correta do nome de uma banda colombiana que desde 2003 vem se revelando uma máquina de vender discos. O gênero musical é o tropipop, compartilhado por outras bandas compatriotas como Bonka e Wamba e sucesso entre os estudantes de colégio. Sanalejo é o principal nome do tropipop, não sem o merecer. Estão há mais tempo na estrada e se situam em um patamar acima dos demais em relação à estética e ao esmero nas produções. Fazem seu trabalho com mais naturalidade; suas letras não se limitam a temas melosos, mas falam de humor, diversão com os amigos, porres e liberdade.

Os primeiros discos do Sanalejo, o homônimo de 2003 e Alma y locura de 2005, contêm uma dose de ingenuidade sonora típica das bandas novas criadas por pessoas jovens. Solo he quedado e Pa'na, no álbum Sanalejo, além de El Culevante e Mujer Calavera, no Alma y Locura, são exemplos de músicas despretensiosas que deixariam insuspeita a real dimensão do trabalho da banda. Por outro lado, nestes mesmos discos já é possível encontrar sinais de que o cadinho sonoro do Sanalejo carrega muito mais tipos de materiais do que uma análise superficial poderia concluir. Faixas como Barman, no primeiro disco, e El Diablo e Guaricha, no segundo, atestam que a receita da banda não é apenas música caribenha + música pop/2: existe, também, muito ska, funk, fanfarra, voz, ritmo, tempo nesta brincadeira. São vários os sinais de que há um trabalho em evolução.

Esta evolução acontece no álbum No lo hagas, de 2007. É o típico CD em que se percebe a mão do produtor em cada detalhe, como que querendo dar um rumo, um posicionamento bem definido para a banda. É um álbum mais pop, no sentido de procurar agradar o gosto médio, mas também mais sofisticado: os caras passaram a usar recursos, instrumentos, efeitos sonoros de que não dispunham nas apresentações dos tempos de colégio. Influências do jazz, funk, soul, reggae são perceptíveis ao longo do CD, que tem seus hits pop, como Mejor que tú no hay nada e Me gusta (pequeña putita), mas também música para momentos de menor euforia e igual contentamento. O tropipop está praticamente enterrado, afogado pelos instrumentos de sopro que dominam o álbum e garantem o sutil entrelaçamento com a latinidade. O ponto alto do disco fica com o ska, que os músicos da banda finalmente puderam levar a cabo com toda energia. Loco e De tripas corazón são infinitamente mais contagiantes do que Barman, que ainda guardava um quê de downtempo.

Com o álbum No lo hagas, a banda Sanalejo pretende deixar claro que agora faz um som de adultos, mas não para os adultos. A banda amadureceu, talvez querendo acompanhar os colegas de colégio que foram para a universidade. Mas não deve envelhecer o som a partir daí, sob pena de perder a juventude que a definiu desde os primeiros sucessos. O disco é bem variado, mantendo a proposta eclética do grupo. Mas se é preciso indicar alguma coisa, Mirando al sur e Amapola representam a contribuição do Sanalejo para uma proposta integradora de música latino-americana. Me gusta (pequeña putita) é um elogio à lascívia feito com bom gosto. É o típico hit pouco programado: não foi a primeira música de trabalho do disco, mas é aquela que acaba e ainda nos deixa a pensar nela, na letra bem tramada. Este é o clipe oficial e dessincronizado; em pouco tempo deve ser possível encontrá-lo na fluência normal.


 
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domingo, maio 18, 2008
Nosliw - Wie Weit
Em homenagem à nossa animada estagiária Adriana Costa, fecho esta série diária de posts com mais um clipe do reggueiro alemão Nosliw, o cara que lançou um CD com o mesmo título de um do Legião Urbana (Mehr Davon x Mais do Mesmo) A música é Wie Weit, e a letra é muito útil de acompanhar para quem está aprendendo alemão. Uma ótima semana para todo mundo.


 
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Acabou a Wódka
A banda de punk rock Pidżama Porno (pronuncia-se pidjama) foi a sensação da semana especial sobre música polonesa. A música Wódka conquistou público e crítica, sendo também destaque de nossa primeira apresentação como Djs Bárbaros.

Como alguns anos já se passaram, cabe aqui uma triste atualização. A banda acabou em 09 de dezembro de 2007, depois de ter existido por 20 anos. Foram mais de dez álbuns e um DVD de despedida, de nome Finalista.

O som da banda pode ser colocado entre o ska-punk e o punk-rock. O universo das letras ia desde mensagens políticas até baladas românticas. Estes intervalos por onde a Pidżama Porno flutuou talvez expliquem o seu sucesso na Polônia e o reconhecimento em outros países da Europa.

O clipe abaixo não é oficial da canção Wódka, mas é até divertido, e pelo visto foi feito seguindo o espírito da banda.


 
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sábado, maio 17, 2008
Mais do Après La Classe
Este é o clipe da música Paris, do Après La Classe. Não é das minhas preferidas, mas é a que catapultou o grupo para o sucesso.



 
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Coletivo Techno Nortenho
Algum brasileiro já tentou misturar música caipira (e não sertaneja) ou nordestina com música eletrônica? Foi mais ou menos isso que fizeram os tijuanenses do Nortec Collective. Nortec é a fusão de norteño (música típica do norte do México, como o nome indica) e techno, uma referência à fusão com música eletrônica, não necessariamente o próprio techno.

O Nortec Collective surgiu em 1999, e já se apresentou em vários lugares do mundo. Faz um som que se presta bem para exportação, uma espécie de aperitivo para ouvidos gringos do que constitui a música tradicional rural mexicana. O grupo foi indicado ao Grammy e também teve uma de suas canções indicadas para a trilha sonora do jogo Fifa Soccer. Trata-se da canção Tijuana Makes me Happy. É uma das poucas do grupo que são cantadas, e é em inglês. No geral, as músicas do Nortec Collective não possuem mais do que algumas amostras de vocais.

É importante não confundir o estilo musical "nortec" com a banda "Nortec Collective". A banda é uma das principais representantes desta corrente musical, que já possui bastante vitalidade e goza de bom conceito entre a crítica, sendo ainda objeto de análise acadêmica.

O clipe abaixo, Tengo La Voz, é um interessante passeio pelas ruas de Tijuana.




 
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sexta-feira, maio 16, 2008
Algo Está Cambiando - Julieta Venegas
A Rainha é sempre lembrada, mas ainda não foi ouvida aqui no blog. Esta música Algo Está Cambiando é do álbum "Sí", de 2003, o penúltimo da cantora Julieta Venegas. Tenho ouvido ultimamente, mas nem sabia que tinha clipe. Gosto da letra. O clipe segue a fotografia comum aos clipes da cantora, apenas é um pouco parado para a música, que tem lá suas viradas.




 
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Anna Mulle End - Dê-se para mim
Aqui vai uma tradução aproximada de Anna Mulle End, da banda de rock estoniana Genialistid. Observem como a letra é uma série de jogos de palavras, muitas vezes intraduzíveis."Punkt" quer dizer ponto mesmo, o ponto final da frase. Mas também pode ser entendido como formando uma palavra composta com as demais frases da estrofe: ponto de apoio, ponto inicial, ponto de mutação. Créditos para Ana H., da Estônia.

Anna Mulle End - Dê-se para mim

anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end

anna mulle toetus ja poetus ja koitus punkt - Dê-me suporte e apoio e coito ponto.
anna siirus ja viirus ja kiirus punkt - Dê honestidade e vírus e velocidade ponto.
anna algus ja valgus ja selgus punkt - Dê início e luz e claridade ponto.
anna muute ja puute ja suute punkt - Dê mutação e encontro e realização ponto.
anna hipi ja nipi ja vipi punkt - Dê hippie e truque e VIP ponto.
anna loome ja soome ja toome punkt - Dê criação e Finlândia e cerejeira-brava ponto.
anna stiili ja viili ja kiili punkt - Dê estilo e arquivo e libélula ponto.
anna marsi ja parsi katarsi - Dê marciano e parsi catarse

anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end

anna mulle soki ja roki ja loki punkt - Dê-me meia e rock e fechadura ponto.
anna suusa ja puusa ja tuusa punkt - Dê esqui e quadril e ás ponto.
anna ussi ja sussi ja vussi punkt - Dê cobra e chinelo e imbróglio ponto.
anna numbri ja skumbrija kilu punkt - Dê um número e um quilo de cavala ponto.
anna kapi ja papi ja sapi punkt - Dê estante e grana e bílis ponto.
anna kahvli ja vahvli ja tahvli punkt - Dê garfo e canudinho e quadro-negro ponto.
anna panni ja vanni ja punni punkt - Dê caçarola e banheira e rolha ponto.
anna tormi ja tungi ja pungi - Dê trovão e impulso e punk

anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end

anna mulle end
anna mulle end

anna mulle ukse ja okse ja tukse punkt - Dê-me porta e vômito e batida ponto.
anna kohvi ja lohvi Gaddafi punkt - Dê café e pneu e Gaddafi ponto.
anna kommi ja pommi ja trammi punkt - Dê doce e bomba e bonde ponto.
anna selge ja helge ja kulge punkt - Dê claro e brilho e providência ponto.
anna tunni ja punni ja ... punkt - Dê hora e rolha ... ponto.
anna hääle ja meele ja keele punkt - Dê voz e mente e língua ponto.
anna hüppe ja vappe ja toppe punkt - Dê pulo e tremor e dobro ponto.
anna sisse ja kesse ja kusse - Dê acesso e o quê e agora

anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
anna mulle end
 
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quinta-feira, maio 15, 2008
Özledim Seni (110)
Hora de conferir mais um clipe da banda turca de electrock 110. Tem muita banda de uma música só por aí, mas, para outras, ficar num hit só seria injustiça com o restante do trabalho. Özledim Seni tranqüiliza ao mesmo tempo em que inspira.



 
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Punk in het Nederlands
A luz caiu e nem foi culpa da Coelba. 2 computadores e 2 chuveiros ligados numa casa com seis pessoas: é demais para um disjuntor de 30 ampères. É nestas horas que o auto-salvamento aqui do sistema de blogs vem a calhar. Mas, como eu ia tentando dizer pela quinta vez, já faz um bom tempo que a gente não fala de música da Holanda. Então, antes que eu queime a língua depois de ter prometido trazer coisas boas do país, vou continuar na linha do punk rock, que tem dividido atenções com o reggae nas últimas semanas, e falar de uma banda que traz na bagagem ironia e irreverência.

Heideroosjes são umas florezinhas bem pequenas e frágeis. Roos é rosa, e roosje é rosinha, com a ajuda do diminutivo -je. O holandês compartilha com o português a existência de sufixos diminutivos, que muitas vezes alteram o significado das palavras além da simples idéia de tamanho, uma opção que nem é tão comum assim no menu das línguas do mundo. Resumindo: taí um nome bastante inusitado para uma banda de punk. A intenção era esta mesmo: fazer graça com os nomes usuais das bandas punk, que falam de violência e outros temas sombrios.

O grupo já tem 19 anos de estrada. Foram mais de dez álbuns, por cinco gravadoras diferentes. O último deles foi em 2003, o que não quer dizer que Heideroosjes tenha acabado. Os caras gravam em holandês, alemão, inglês e no dialeto local, o limburguês - que nem é tão "local" assim, pois Limburgo é uma região dividida entre Holanda e Bélgica, cada uma com a sua província homônima. A capital de Limburgo é Maastricht. Se o nome lhe soa vagamente familiar, você deve ter ouvido falar do Tratado de Maastricht, que criou a União Européia tal qual a conhecemos hoje.

Quanto à música da Heideroosjes, ela segue bem na linha de que o punk rocker é mesmo um animal político. Humor, sátiras a políticos, aos hooligans e outras entidades são o recheio da massa sonora hardcore. Tem até uma letra envolvendo o prefeito de Maastricht e uma crítica à política de drogas leves dos Países Baixos, considerada hipócrita pela banda. Como se vê, nem tudo são flores na terra do "pode tudo". O vídeo abaixo é da música Damclub Hooligans, que eu achava que fosse uma apologia à violência. Depois de conhecer melhor a banda, descobri que, felizmente, é mais uma crítica bem-humorada mesmo.



 
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quarta-feira, maio 14, 2008
Nuvens Rápidas
Para fechar a noite, vamos de Subsonica. Clipe da música Nuvole Rapide, do disco Amorematico, lançado em 2002. A banda se destaca pela inventividade e pela quantidade dos clipes, muitas vezes melhores que as músicas que carregam. Neste caso há um certo equilíbrio.



 
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110 - Eletrônica e Guitarra Elétrica
A banda turca 110 (Yüz On) faz um som que considero dos mais versáteis dentro do projeto Invasões Bárbaras: electrorock. As canções do grupo parecem funcionar bem em qualquer ambiente: tem sempre aquela que se encaixa no fechamento do bloco musical do rádio (é o caso de Özledim seni), outra que tem mais peso e agrada mais a galera que curte rock (Bitti Mi) e outra de vertente mais eletrônica (F2).

O electrorock é um gênero musical tipicamente de síntese, e no caso do grupo 110 ainda ocorre a inclusão de elementos da música turca. Na prática, em cada faixa do CD Atomların Harika Dünyası, o primeiro da banda, lançado em 2005, vamos encontrar elementos hora do rock, hora da música eletrônica, hora mais acústicos. Temos faixas em que a estrutura das estrofes segue a lógica do rock, mas a base é toda eletrônica; outras já são menos lineares e mais experimentais, seguindo tendências da música eletrônica - mas a guitarra rouba a cena. E mesmo faixas mais lentas e acústicas, menos pretensiosas, chamam a atenção pelo estilo turco de vocal e pelos arranjos eletrônicos bem pontuados, sem exageros. No geral, o CD é muito coeso, e a seqüência das faixas segue uma proposta musical consciente.

Grup é como os turcos chamam as bandas. Na maioria das vezes, o termo se funde ao próprio nome da banda, passando a ser um só - informação útil em mecanismos de busca, especialmente no caso do Grup 110, de nome curto e comum. A música turca tem papel fundamental dentro do Invasões, uma espécie de coringa que nos providenciou o melhor da música regional do Oriente Próximo e as tendências mais recentes da música global.

Nosso primeiro encontro com a música turca foi logo no início do projeto, e nosso repertório ainda não era suficiente para bem classificar determinados gêneros. Conforme crescia nosso entendimento, aumentava a participação daqueles mesmos grupos turcos garimpados meses e até anos antes. Seja no programa semanal ou nos vários estilos de discotecagem, a Turquia sempre tem algo a agregar. No caso da 110, a banda até foi "mudando de nome" dentro do Projeto. Começamos por chamá-la de "Grup cento e dez", depois observamos que muitas bandas turcas tinham este "Grup" na frente. Reduzimos para apenas 110, já que preferimos dizer "grupo 110" ou "banda 110" em português mesmo. Um pouco mais de pesquisa bastou para descobrirmos que 110 se pronuncia "yüz on" - já que turco nenhum lê "cento e dez" ao falar da banda. A partir daí começou um lento e contínuo trabalho de corrigir - e convencer - os demais produtores.

O mais interessante é que, neste meio tempo, a banda passou de independente e desconhecida, entre 2005 e 2006 - ano de nossa pesquisa - a um dos principais nomes do rock turco. Até lançaram um novo CD, Kontrol, que merece um post à parte porque trouxe algumas mudanças. Mas já que a gente falou e falou da banda, e até viajou um pouco pela música turca, vamos conferir qual é a dela, então. Bitti mi é um vídeo que diz muito da banda, tem cara de primeiro single, mesmo. Mas vale a pena conferir também Özledim seni, Gölge e Tuzak - todas elas viraram clipes.



 
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terça-feira, maio 13, 2008
Loucos por rock
Quando eu falo que a Estônia tem os músicos mais doidos, não é nenhum exagero. Que o digam os caras desta banda aí ao lado, a Genialistid. Tive a curiosidade de ouvir um CD deles, na íntegra, e eles fizeram o favor de gravar dez versões da mesma música, cada uma com título e letra diferentes. Só pode ser alguma música tradicional que eles reaproveitaram.

Genialistid é uma banda de rock alternativo que lançou seis álbuns, e aparentemente parou de se apresentar no ano passado. Apesar dessa frustração de termos que ouvir dez faixas iguais num CD deles, a proposta da banda é bem interessante e criativa. O destaque fica por conta da canção Anna Mulle End - este Anna não tem nada a ver com nome de mulher, a tradução da frase é "dê para-mim isto". A música já tem a maior cara de hit em festas de rock, nós a tocamos algumas vezes e a repercussão foi boa. Os versos são todos estruturados com a expressão "anna mulle end", e é possível, mesmo sem saber estoniano, ouvir várias referências à cultura pop mundial. Já temos a letra traduzida, e em breve a postamos aqui.

Outras canções da banda que valem ser mencionadas são Täna ma ei skoori; Helena Wanje - que tem a maior cara de reggae e de versão, também - e a tal da canção regravada dez vezes no mesmo CD. Eu gosto da encarnação dela que se chama Leekiv Armastus (aparentemente quer dizer "amor aceso", "amor ardente" - "armastus" é amor), um dueto com Lea Liitmaa, da bela banda de pop Blacky, que era formada somente por mulheres estonianas - as mais gatas, claro. Esta música foi trilha sonora do filme Vanad ja Kobedad saavad jalad alla, de 2003. O clipe, que a gente confere abaixo, foi baseado em cenas do filme. Nenhum dos dois cantores é cego, isso é só estilo mesmo.





 
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segunda-feira, maio 12, 2008
Culpables - Gocho ft. Willy
Aqui vai a letra de Culpables, do cantor de reggaeton Gocho com participação especial de Willy, vocalista da banda de reggae Cultura Profética. Vou seguir a moda aqui do blog de não postar tradução de músicas em espanhol. Só algumas dicas: cirujano quer dizer cirurgião e estriba é "baseia-se em".


No hay cirujano que pueda...
Arrancarme de este corazón...
Lo que por ti yo siento...
(Lo que por ti yo siento!)
Ni diccionario que tenga palabras...
Para expresar todo este sufrimiento...
(Todo este sufrimiento!)

Es que la culpa es del tiempo
De la distancia, de mi estilo de vida
Nuestra ignorancia, culpable es el mundo
Culpables son todos, excepto tú y yo
Es que la culpa es del tiempo
De la distancia, de mi estilo de vida
Nuestra ignorancia, culpable es el mundo
Culpables son todos, excepto tú y yo

Soy artesano de la expresión
Mi misión estriba en poner pensamiento en canción
No tengo horarios, no tengo reglas
Pero es por eso que es doble la entrega
Si cuando no queda tiempo pa' compartir
Solo hay que fluir, no nos debemos dejar confundir
Por los miedos, las novelas
Sabes que yo estoy pa' ti, mi negra

Es que la culpa es del tiempo
De la distancia, de mi estilo de vida
Nuestra ignorancia, culpable es el mundo
Culpables son todos, excepto tú y yo
Es que la culpa es del tiempo
De la distancia, de mi estilo de vida
Nuestra ignorancia, culpable es el mundo
Culpables son todos, excepto tú y yo

Y hoy sé, mi negra, que...
Ni tú ni yo nos dábamos cuenta ayer
Ya la distancia nos ponía a prueba
Pero nadie está hecho para aguantar
Tanta dosis de presión
Y te llenaste de frustración
Tanta decepción, pensamientos de traición
Que sé que hoy no valen, no pesan
Como este tanto dolor...


(repete estrofe 1 e refrão)
 
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domingo, maio 11, 2008
Ermes e Rinato
O que têm em comum um bando de humoristas brasileiros e outro bando de músicos sicilianos? Além do humor escrachado nas performances musicais, também o look de mafiosi com tudo a que têm direito. A comparação surgiu a partir do clipe da música Voglio Vivere Così, em que a banda Qbeta (pronuncia-se cubeta) se produz no melhor estilo Hermes e Renato para fazer uma sátira às histórias de máfia. No caso do vocalista, Peppe Cubeta, este é o look normal dele.





A banda Qbeta ainda não é muito popular na Itália. Até bem pouco tempo atrás, eu era um dos que mais ouviam a banda, incluindo os italianos na contagem. Um dos pontos altos de sua trajetória foi a apresentação no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, no ano de 2005 (esta edição do Fórum ainda seria responsável por revelar muito mais artista bárbaro). A idéia da banda é produzir música mediterrânea com mistura de estilos como o reggae, o ska e as canções tradicionais da Itália.

O resultado final é bem diferente da Après La Classe, ao menos quanto à forma, já que no terreno das idéias e valores os dois grupos têm muito em comum. A performance da Qbeta é mais escrachada: os clipes satirizam as letras bonitas e românticas das canções, como a gente vê acima, no clipe de Voglio Vivere Così (Quero Viver Assim). Há também canções sobre elementos da cultura mediterrânea e afirmação de sua identidade. Algumas são cantadas em bom dialeto siciliano.

As canções românticas da Qbeta têm um revestimento típico do brega que funciona quando é assumidíssimo, o que é o caso. Destaco L'amore di Pablo, que serve também para dar uma quebrada no ritmo acelerado de músicas como La tua pele e Scappa Carmela.
 
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Rap à Senegalesa
O rapper Mc Solaar, de nome verdadeiro Claude M'Barali, nasceu em Dakar, capital do Senegal. Seus pais eram originários do Tchade, e a família se mudou para a França quando o pequeno Claude tinha apenas oito meses de vida.

Mas não foi a França o ambiente decisivo na formação da carreira de Mc Solaar. A idéia de seguir como rapper surgiu, na verdade, depois que ele passou alguns meses no Egito, em companhia do DJ Afrika Bambaataa.

As origens múltiplas de vida e de carreira de Mc Solaar resultaram em um trabalho marcado pela complexidade, pelo lirismo e pela filosofia nas letras; as melodias são baseadas em ritmos de dança. A qualidade de seu trabalho o tornou reconhecido como um dos principais rappers em língua francesa da atualidade. A parceria com gravadoras britânicas e artistas americanos resultou em uma boa exposição nestes países.

Mc Solaar também é político. São desde músicas que questionam o convulsivo sistema previdenciário da França até outras que combatem ativamente a pirataria, especialmente o download não-autorizado de canções pela internet. O ativismo do cantor o fez não só dedicar uma canção ao tema, versão de La vie est belle (também dele), como também pôr para circular na internet uma versão falsa de um de seus álbuns, que consistia apenas em alguns segundos de gravação de frases aleatórias.

Até o momento foram lançados sete álbuns de estúdio e um ao vivo. Desde o quinto álbum, os títulos fazem referência ao número do CD na coleção: Cinquième As (2001), Mach 6 (2003) e Chapitre 7 (2007). Recomendo as canções RMI e Nouveau Western, de letras repletas de significado político, mas prefiro a leveza de ritmo de Obsolète:



 
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sexta-feira, maio 09, 2008
electrofifa
O berlinense Daniel Baumann, conhecido nas pistas como Nachlader, começou a carreira com tudo. Depois de lançar os singles An die Wand e Arbeitsgeld em 2004 e Fett em 2005, o músico teve a boa An die Wand incluída na trilha sonora do jogo Fifa 2005, repertório que costuma incluir as bandas que estão renovando a cena musical de seus países. Parecia que o caminho para o estrelato mundial estava pavimentado.

Mas Nachlader deu uma sumida até do circuito alternativo. O álbum completo foi lançado ainda em 2005, e é muito agradável de ouvir. O electropop cantado em alemão do Nachlader é inconfundível e muito bem produzido. Bock auf Aphorismen? tem uma unidade de estilo, mas as faixas também têm vida sozinhas: quase todas poderiam ter virado singles, não tem aquela de B-sides. Destaque para o duo com o francês do francês Serge Kool em Fett e para um fato curioso: a faixa 07, Gitarre, começa com a repetição de "Alles was ich will". Mas Alles é o nome da faixa 08, que por sua vez começa repetindo o texto "Individuum Vakuum", que é o título da faixa 09, que diz "Ich habe meine Gitarre verkauft", fechando o ciclo. Este diálogo entre as faixas, em que uma parece chamar a outra, reforça a unidade do CD.

Nem tudo está parado. Acessando o myspace do Nachlader, ouvi a música Allein, que não está no álbum. Até agora não foram lançados singles ou álbuns, mas tomara que isto signifique que vem coisa nova por aí. O clip abaixo é do sucesso Fett, indispensável na playlist de quem curte electropop:



 
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quinta-feira, maio 08, 2008
Bosque Indie
Não sei se dá para falar em otimismo, mas a verdade é que os indie rockers da Suécia são os mais animados do gênero. Sempre de bem com a vida, com músicas pra cima e vocais vivos, são eles os responsáveis pela comparação com o axé music. Håkan Hellström só tem de diferente um pouco mais de percussão em suas músicas, mas a filosofia do indie rock sueco que percebemos nele é comum a vários outros artistas e bandas.

A Dungen (bosque, mas também grove) tem a leveza típica do indie rock sueco, mas escolheu homenagear os psicodélicos anos 70 ao invés da Bahia. O vocal que se mistura aos sintetizadores e a incorporação de várias tendências do rock dão à Dungen uma sonoridade bem característica, que a diferencia um pouco das várias bandas similares. Foi esta sonoridade única que a fez conhecida do outro lado do Atlântico (tanto em cima como embaixo), mesmo cantando em sueco.

Confesso que, quando fui pesquisar mais o indie rock sueco, ainda estava sob efeito da quebradeira e dos riffs acelerados das bandas francesas e austríacas, então acabei encontrando músicas com um tempo bem diferente do esperado. Aos poucos a gente vai apurando o ouvido e resgatando preciosidades como a Dungen, presente nas nossas primeiras pesquisas musicais sobre a Suécia ainda em 2006.

O melhor CD já lançado pela banda é sem dúvida o Ta Det Lugnt, de 2004. Mas, desde abril do ano passado, já está disponível Tio Bitar (Dez pedaços). Stadsvandringar, de 2002, é o que mais compartilha o espírito de banhos de sol e passeios de parque que tenho encontrado nas outras bandas. Vale a pena conferir a faixa-título:


 
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quarta-feira, maio 07, 2008
Cultura Profética
Hoje bateu aquela dúvida se eu escrevia sobre música argentina ou sobre música portuguesa. Mas me decidi, mais uma vez, por Porto Rico. E pelo reggae. Foi mal, Costoli.

Cultura Profética começou a carreira em 1996, tendo lançado o álbum de estréia, Canción de Alerta, em 1998. Até agora já foram quatro álbuns de estúdio, além de dois ao vivo: o primeiro deles, em 2001, com os sucessos da banda; o último, mais recente, nao podia faltar: tributo a Bob Marley.

Assim como os conterrâneos do Circo, Cultura Profética se converteu quase que numa unanimidade ao longo da América Latina. Já encontramos aqui e ali comentários de que esta é a melhor banda de reggae em espanhol da atualidade. Estas bandas porto-riquenhas não têm brincado em serviço: cantando em bom espanhol, conseguem entrar com facilidade nos Estados Unidos e ainda ser sucesso de público e crítica nos países de língua comum.

A música Ritmo que pesa é sugestão do produtor Tiago Capixaba. É a faixa de abertura do CD M.O.T.A., o último em estúdio, lançado em 2005. M.O.T.A é a abreviação de Momentos de Ocio en el Tiemplo de Ajusco. O tal Templo de Ajusco é um subúrbio da Cidade do México: a banda passou quatro meses naquelas terras antes de lançar o CD. A palavra mota também se refere a uma planta, na gíria mexicana. Acredito que nem precise dizer qual. Bem, a estadia, o CD e a gíria em referência ao México só comprovam o quanto os porto-riquenhos estão integrados aos seus países irmãos.





Como eu ia dizendo logo abaixo, a música que me chamou atenção em relação ao Cultura Profética é na verdade um reggaeton, gravado através de uma participação especial do vocalista Willy numa faixa do também porto-riquenho Gocho. A música se chama Culpables. Reggaeton bem produzido e com uma letra bacana, sem apelação, não é coisa que a gente vê toda hora, então vale a pena conferir também.



 
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terça-feira, maio 06, 2008
Mapa do Reggae Bárbaro
O reggae é tão "um estilo que ganhou o mundo" quanto qualquer outro. Não é todo mundo que é fã, mas, entre produtores e ouvintes, o estilo tem audiência cativa no Invasões e presença constante em nossas programações. Surgido num país colonizado por ingleses em pleno Caribe, o caminho natural de expansão do reggae foram os países de língua latina e de língua germânica, aqui nas Américas e lá na Europa.

Na América Latina, temos os argentinos do Los Pericos. Eles já foram mais reggae, mas o som continua bom.

Temos ainda em Porto Rico o pessoal do Cultura Profética. Eu particularmente gosto da participação do vocalista Willy numa canção de reggaeton com Gocho.

Indo já para a Europa, temos na Suécia a Svenska Akademien, que acabou de ser mencionada aqui no blog. Mas temos também muitos outros: Kultiration, Kapten Röd, Helt Off.

A Alemanha é mais afeita às batidas mais marcadas do dancehall, parente do reggae também nascido na Jamaica. Mas Nosliw tem canções com a levada mais típica do reggae. Jan Delay e Gentleman são nomes bem populares; só não espere ouvir reggae o tempo todo. Irie Revoltés canta em francês também, por ser um projeto binacional.

[SPOILER] O melhor do reggae e correlatos em língua alemã é produzido mesmo na Áustria, pelo menos foi o que deu para notar. A voz feminina de Mono, da dupla de dancehall Mono & Nikitaman, combina com as batidas suaves das poucas e boas canções de reggae que a dupla possui.

Já que a gente mencionou o idioma francês, não custa dizer que esta língua parece se ajustar perfeitamente ao reggae. O acento tônico na última sílaba combina bastante com as melodias do ritmo em questão, de forma que o reggae em francês soou para mim com a maior naturalidade. Nuttea é um dos nomes mais famosos e faz também hip-hop, indo na mesma linha musical da Svenska Akademien, apenas com menos irreverência.[/SPOILER]

Os artistas de reggae da Itália não despertaram nenhuma atenção específica, já que havia muita coisa a ser descoberta e mostrada nos outros ritmos. Mas a própria Après La Classe tem músicas de reggae belíssimas e de bom ritmo, como L'era del fiore, La stagione dell'amore c'è e Se spegni il sole.

Saindo um pouco do Ocidente, vale destacar a faixa-título do álbum Milionim, da cantora israelense Etti Ankri.

É claro que não se trata de nenhuma lista exaustiva. Os fãs de reggae têm o mundo inteiro para explorar. Vale dizer que tem reggae sendo feito na Islândia, Finlândia, em vários países da África, e que o reggae tem influenciado da música francesa à georgiana.
 
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segunda-feira, maio 05, 2008
Sene, sene, sene...
Dia corrido, tempo para vermos uma amostra do que está vindo aí sobre a música do Senegal. Quando o senegalês é muito bom, ele costuma dar o pontapé de sua carreira internacional pela França. Isso quando ele mesmo já não traçou toda a carreira dele em solo francês, onde vivia como imigrante desde a infância. Todos estes artistas, claro, têm em comum o fato de não renegarem suas origens nem mesmo musicalmente, ao contrário de um certo rapper conterrâneo deles que parece não se arrepender de ser parte do Império, depois diz que não importa e que podem colocar a culpa nele mesmo.

Mistério? Vamos curtir o mito bíblico dos filhos de Cham segundo o cantor de chanson/jazz/pop Tété. É uma bonita e contundente declaração anti-racismo. Em breve a gente fala mais dele e de outros senegaleses que foram fazer "xuxexo fora", que nem falava meu conterrâneo Xangai.



 
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domingo, maio 04, 2008
Inquietação
"Com este nome, deve ser banda de punk rock" - pensei. Quando ouvi as primeiras canções, me dei conta de que a idéia não era perturbar no sentido de aborrecer, de encher o saco. Pesquisando um pouco mais, entendi que a perturbazione dos italianos é mais utilizada no sentido de fenômenos físicos, como alguma perturbação atmosférica ou as ondas que se formam quando a gente atira pedrinhas em um lago.

A Perturbazione, assim como a maioria das bandas italianas, já fazia parte do meu repertório muito antes de ir para o repertório do Invasões Bárbaras. Entre as poucas canções que tinha, um cover do Belle & Sebastian era a que mais me chamava atenção. Eu ainda não sabia, obviamente, que era uma versão, e depois de tê-lo descoberto foi que entendi o que havia de mais além naquela Portami via di qua, sto male: vida. Perturbazione é, sobretudo, vida. Não me admira terem feito uma canção mais viva do que os Belle & Sebastian conseguiriam.

Perturbazione é experiência, é introspecção, é vicissitude. Uma tradução apropriada seria inquietação. Uma tristeza que não é necessariamente melancolia, mas a simples revelação de que o que são as nossas existências depende de nós mesmos. O sentido da vida é tão mais fácil de ser compreendido quanto menos tentarmos complicá-la, quanto mais, vivendo com leveza.

Perturbazione é rock, boa parte das vezes. Ultimamente também tem sido bossa. Daquelas que não fariam feio na abertura de uma novela de Manoel Carlos regravada na Itália. Quero crer que a semelhança com Cocoon seja coincidência.

Perturbazione é independente porque viver depende de cada um de nós e não é algo que se pode delegar. É interdependente de suas muitas influências, porque não são uns poucos acordes ou uns poucos versos que trazem as respostas de tudo.



 
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sábado, maio 03, 2008
o mesmo de novo & o novo mesmo
O álbum mais recente da polonesa Happysad, Nieprzygoda (algo como "desventura"), foi lançado em setembro de 2007. No geral, foi mantida a mesma linha dos trabalhos anteriores: rock típico, sem fusões ou sem adentrar acintosamente em um subgênero específico, mas numa construção musical típica do rock alternativo que permite perceber elementos do punk rock, do rock progressivo e do reggae.

A primeira faxa, Milowy Las, tem a maior cara de faixa de abertura mesmo, com introdução longa, demorando a entregar os instrumentos. A faixa-título, Nieprzygoda, é um pouco mais calma e apagada no contexto do CD, mas ainda assim interessante. Todo o CD possui faixas de levadas diferentes, por conta mesmo desse conjunto de influências que a banda apresenta.

No geral, a impressão que dá é que este álbum é mais diversificado do que os anteriores, houve mesmo um pouco de evolução na sonoridade. Algumas faixas parecem novas versões de músicas anteriores, como é o caso de Taka Historia, um semi-cover de Nostress, do CD anterior, que nem por isso deixa de ser interessante, já que esta linha de rock-reggae é o que há de mais vivo na banda. Taka Historia tem a vantagem de ser mais animada do que a antecessora, o que pode lhe garantir uma vaguinha no setlist de indie rock dos Djs Bárbaros, junto com a faixa #03, Damy Rade, que ultimamente estou até preferindo.

Com tanta coisa a ser dita sobre o trabalho destes poloneses, causa ainda mais surpresa saber que eles mantêm o estigma de banda de rock para adolescentes. Acredito que seja por causa das letras, e porque os poloneses devam preferir rock com um pouco mais de peso. Mesmo assim, é bom saber que os jovens poloneses estão ouvindo trabalhos que já lhes garantem um bom repertório, como é o caso de Nieprzygoda, que circula por várias vertentes do rock. Com todo este grau de exigência, a Polônia deve mesmo continuar sendo um dos poucos países do mundo onde a cena rock predomina em relação ao pop ou demais estilos.
 
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sexta-feira, maio 02, 2008
Academia do Reggae
E do hip-hop também. A banda Svenska Akademien é a principal representante de uma interessante cena sueca de reggae. Formada em 1999, tem seu nome em referência àquela mesma academia que entrega o prêmio Nobel ano a ano. A cidade de origem, Landskrona, fica bem ao sul da Suécia, na região conhecida como Escânia, e a banda também canta no dialeto local, o que, aliás, não é nenhuma novidade em se tratando dos artistas daquela região.

Como banda de reggae que se preze, a Svenska Akademien canta uma temática recheada de ideologia libertária. Eles negam a definição de esquerdistas ou verdes, e dizem apenas fazer música. Mas quem acompanhou o lançamento do CD solo do vocalista General Knas - Äntligen har rika människor fått det bättre (Finalmente os ricos conseguiram melhorar de vida) - e ouviu músicas como Ctrl+Alt+Del - metáfora do aparato social que está à beira do colapso e necessita de medidas drásticas como um computador em pane - não tem dúvidas de que estes suecos têm muito a nos dizer sobre o que é pensado da e para a sociedade no seu pedaço de mundo.

Essa galera já lançou cinco CDs, o último deles, Gör det ändå, foi comentado no quadro Saído do Forno do nosso programa semanal. Assim como muitos grupos de reggae do Velho Mundo, eles vão do reggae ao hip-hop com a maior naturalidade, e fica difícil escolher qual música é melhor. E não é nenhum hip-hop com batidas secas e vocal nervoso, não: é melodia muito bem trabalhada, com as partes faladas e cantadas se alternando suavemente, sem aquela artificialidade do sampler. O vocal alternado entre jogral/coral funciona muito bem no hip-hop, mas nem tanto no reggae, deixando-o menos dinâmico. Recomendo Kärleskrigare de reggae e Ctrl+Alt+Del de hip-hop no segundo CD, Tändstickor för mörkrädda. E, claro, em relação ao CD mais novo, logo, logo a gente fala dele por aqui. Para fechar, o clipe de Vetande, "Conhecimento". Ah, o nome dela é Agnes Olsson.



 
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quinta-feira, maio 01, 2008
Forma e conteúdo
Fui apresentado à banda porto-riquenha Circo como sendo ela uma banda de pop-rock. Realmente numa primeira audição a banda passaria despercebida, condenada ao lugar-comum do topo das paradas das canções de rock comportadas. Mas é só prestar um pouco mais de atenção para identificar elementos que sinalizam aquilo que se convencionou chamar de rock alternativo: agrupamento de mais de uma tendência do rock no som; vocal que não é simplesmente sobreposto à melodia em primeiro plano, mas que às vezes desce uma camada para deixar evidente a base musical; utilização de outros instrumentos nos arranjos que não aqueles tradicionalmente ligados ao rock.

Isto tudo é para dizer que este rótulo "banda de pop-rock" me incomodou no Circo, porque de cara já percebi pelos clipes e pelas letras que se tratava de uma banda de conteúdo bem definido, de preocupações estéticas e de busca da poesia. Antes del fin é até meio pop, mas Alguien definitivamente vai mais além. Para quem conheceu a predecessora do Circo, El Manjar de Los Dioses, liderada pelo mesmo vocalista Fofé e que deixaria os Secos e Molhados ruborizados, é verdade que Circo vestiu uma roupagem que a permitiu ocupar a posição de destaque em todo o rock en español que ela possui hoje, mas daí a chamá-la de banda de pop-rock sem atentar para este plus a mais é um pouco demais. Não faz o menor sentido dizer que a mexicana Café Tacvba é rock alternativo e que o Circo é pop-rock.

É claro que esta eterna discussão do que é pop e do que é alternativo tem se revelado estéril e rasteira e nem é o foco do nosso trabalho aqui no Invasões Bárbaras, mas não resisti em colocar os pingos nos is e aproveitar a oportunidade para mostrar que Porto Rico não é só reggaeton.



 
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