sábado, maio 24, 2008
Intempéries do iletramento intercontinental
A postagem abaixo, além de mostrar um pouco mais do bom trabalho da banda sul-coreana Roller Coaster, serviu também para dar uma idéia dos apuros que nós, pesquisadores bárbaros, passamos quando vamos pesquisar alguma coisa em alfabeto/sistema de escrita diferente do latino. Serviu ainda para sinalizar qual é a estratégia dos artistas destes países que não usam o alfabeto latino para tornarem sua música mais acessível, ou pelo menos fazer seu nome legível para o público ocidental.

Uma coisa é você pesquisar uma banda sérvia chamada Riblja Čorba. Você pode não ter a menor idéia do que Riblja Čorba significa ("sopa de peixe"). Você nem imagina como se faz para digitar esse c com circunflexo invertido em cima. Mas estes caracteres especiais normalmente são ignorados pelos buscadores, de modo que, digitando riblja corba, você consegue chegar às informações e aos arquivos sobre a banda.

Agora, imagina uma banda que se chama 롤러코스터. Primeiro que é altíssima a possibilidade de seu computador, ou algum programa específico que você esteja usando, não conseguir exibir este sistema de escrita e mostrar um 롤러코스터 ou uma seqüência □□□□□ de quadrados aparentemente aleatórios. Segundo que, supondo que você tenha visto o nome da banda numa capa de CD e queira pesquisar alguma informação sobre ela, você vai precisar de uma ferramenta específica para ir digitando e formando o 롤, o 러 e assim por diante (no caso de o nome ter sido visto em um texto na web, um Ctrl+C/Ctrl+V resolveria).

Pensando nisto, algumas bandas do Extremo Oriente em especial (Coréia do Sul, Japão e China, que compõem o chamado sistema CJK nas ferramentas de digitação de caracteres especiais) resolveram estabelecer uma interface amigável com os prospectáveis fãs ocidentais. Criaram um nome ocidental e inundaram nossos mercados com este nome, simples assim. No caso do Japão e da China, geralmente os seus kanji/hanzi (tecnicamente são logogramas; nem são letras, nem palavras, nem ideogramas) contêm uma profusão de sentidos - históricos, regionais ou contemporâneos - que tornam difícil chegar a uma tradução simultaneamente fiel/apropriada/de boa sonoridade. Desta forma, o nome ocidental (geralmente em inglês) tem pouco a ver com o original. É meio o que acontece quando você ganha um nome chinês: de "Anita Campos" para "raios de imensidão".

Já no caso da Coréia do Sul, parece que o próprio estilo das bandas "exportáveis" - moderninhas, com elementos de música ocidental e linguagem contemporânea - facilita as coisas. Os nomes das bandas sul-coreanas e de suas músicas costumam ser traduzidos literalmente do idioma coreano para o inglês (sim, sempre ele), como é o caso de 롤러코스터 para Roller Coaster e de 무지개 para Rainbow.

O ideal seria conhecer esta produção musical diretamente na fonte, mas, como tem muito mais coisa a ser descoberta no mundo musical do que a gente dá tempo de pesquisar e aprender, estes atalhos lingüísticos vêm bem a calhar.
 
Psicografado por Hidson Guimarães | Permalink |


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